Por Rosana Almeida
Eles não recebem a mesma atenção de doenças como a hipertensão arterial, a depressão ou o estresse, entretanto, são as maiores causas de afastamento do trabalho no Brasil. Nos últimos cinco anos, por causa dos chamados Distúrbios Ósteo-Musculares Relacionados ao Trabalho (Dort) e Lesão por Esforço Repetitivo(LER), foram abertas mais de 500 mil Comunicações de Acidentes de Trabalho (Cat’s), que resultaram no afastamento parcial ou integral do individuo do seu ambiente de trabalho.
As patologias são conhecidas há dezenas de anos. E muitos países, preocupados com o aumento de sua incidência, mantêm comitês especiais para seu estudo e equacionamento. Isto porque os sintomas normalmente atingem a faixa etária de maior produtividade (entre 30 a 40 anos), resultando em grandes gastos para os sistemas de seguridade social.
Mas, no Brasil, a história é diferente. Estatísticas recentes mostram que as doenças ocupacionais de maior incidência são as do grupo Ler/Dort, que ocupam o 2o lugar entre as causas de afastamento do trabalho. Isto representa, atualmente, mais da metade de todas as doenças ocupacionais no Brasil (estudo utilizando dados Datafolha/Ministério da Saúde). São dados alarmantes mas, o que mais impressiona, é que não existe no país, por parte do governo, nenhum programa de prevenção. As empresas gastam em torno de R$ 12.5 bilhões/ano e o governo R$ 20 bilhões/ano, com indenizações referentes a doenças ocupacionais. “É uma realidade triste e preocupante”, diz a Terapeuta Ocupacional Jordânia Ferraz. “Ainda hoje percebemos uma realidade na qual a grande maioria das pessoas pensam que uma simples bursite, uma tendinite em seu estágio inicial, não será capaz de gerar um quadro de incapacidade física temporária ou até mesmo definitiva. Existem muitas empresas que não possuem ou não estimulam um trabalho prevenção de seus funcionários, pois ignoram o fato de que uma vez diagnosticados os sintomas mais crônicos como os estágios três e quatro, o tratamento passa a ter bem menos eficácia”.
Como acontecem os Dort’s? - Os Dort’s são desenvolvidos por um ciclo de formação de distúrbios. Nesse ciclo, as micro lesões musculares vão tornando o grupo de músculos mais susceptíveis a novas lesões. As micro rupturas ocorrem com mais freqüência nos pontos menos vascularizados, comprometendo assim as mãos, ombros, braços e antebraços e a coluna vertebral.
Fatores de risco que podem desencadear os Dort’s – A medicina considera dois fatores de risco para o desenvolvimento da dos sintomas: fatores pré-dispostos: levam-se em consideração a capacidade física, alterações hormonais, profissão + tarefa do lar, alterações anatômicas da pessoa e etc.; e os chamados fatores desencadeantes que levam em consideração três outros fatores: Biomecânico: caracterizado pela força excessiva ao realizar tarefas (escrever, digitar); repetitividade; postura inadequada; compressão mecânica de estruturas delicadas, entre outros; Fatores organizacionais: esquema rígido, ambiente de trabalho inadequado (temperatura, iluminação, ruído excessivo, espaço reduzido, mobiliário e ferramentas inadequadas); ausência de pausas; organização do posto de trabalho; pressão de produção; urgências em executar tarefas; condições precárias de trabalho (falta de material e pessoal); chefia desinteressada pelos problemas dos colaboradores entre outros. Fatores sociais: competitividade; dupla jornada; problemas de relacionamentos interpessoais; ambiente excessivamente tenso; questões salariais; insatisfação com o trabalho; repouso insuficiente; correria das grandes metrópoles, etc.
Escute seu corpo - O corpo humano precisa sempre de movimento, de mudança, de expressão. Preste atenção quando ele fala para você mudar de posição, respirar profundamente, relaxar, esticar as pernas, mexer o pescoço, fazer uma pausa no trabalho. Lembre-se: a melhor postura é aquela que deixa você confortável e permite liberdade de movimentos. Ouvindo e atendendo às necessidades do seu corpo, você estará ajudando a prevenir lesões mais sérias. Sintomas mais comuns e que requerem a procura por um médico: Cansaço excessivo;Desconforto após a jornada de trabalho;Inchaço;Formigamento dos pés e das mãos;Sensação de choque nas mãos;Dor nas mãos;Perda dos movimentos da mão.
Cuide de sua qualidade de vida, procurando manter um melhor equilíbrio entre corpo e mente. Faça exercícios físicos pelo menos quatro vezes por semana, tenha uma dieta balanceada e saudável e procure formas de lazer alternativas, que amenizem o estresse do dia-a-dia.
Como prevenir as doenças ocupacionais? - A recuperação desses distúrbios pode ser demorada e cara, por isso a atividade preventiva evita as conseqüências prejudiciais e, em determinados casos, irreversíveis. Os especialistas recomendam estar sempre atento as seguintes atitudes: Conforto é essencial para a prevenção;As operações de trabalho devem estar ao alcance das mãos;As máquinas devem se posicionar de forma que a pessoa não tenha que se curvar ou torcer o tronco para pegar ou utilizar ferramentas com freqüência;A mesa deve estar posicionada de acordo com a altura de cada pessoa e ter espaço para a movimentação das pernas;As cadeiras devem ter altura para que haja apoio dos pés, formato anatômico para o quadril e encosto ajustável; Pausa durante a realização das tarefas permite um alívio para os músculos mais ativos; Durante estas pausas, se levante e caminhe um pouco. Se possível, faça exercícios de alongamento.
O que fazer em caso de suspeita de Dort? - Se houver suspeita da presença de sinais e sintomas de doenças relacionadas ao trabalho, o empregado deve passar por uma avaliação médica. Essa avaliação deve ser baseada em exame clínico que leve em conta a história ocupacional do trabalhador e, quando justificado, em exames complementares.
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Outras doenças ocupacionais comuns:
Doenças das vias aéreas - Alguns exemplos são as pneumoconioses causadas pela poeira da sílica (silicose) e do asbesto (asbestose), além da asma ocupacional. Substâncias agressivas inaladas no ambiente de trabalho se depositam nos pulmões, provocando falta de ar, tosse, chiadeira no peito, espirros e lacrimejamento.
Perda auditiva relacionada ao trabalho (PAIR) - Diminuição gradual da audição decorrente da exposição contínua a níveis elevados de ruídos. Além da perda auditiva, outras alterações importantes podem prejudicar a qualidade de vida do trabalhador.
Intoxicações exógenas - Podem ser causadas por:Agrotóxicos: os pesticidas (defensivos agrícolas) provocam grandes danos à saúde e ao meio ambiente; Chumbo (saturnismo): a exposição contínua ao chumbo, presente em fundições e refinarias, provoca, em longo prazo, um tipo de intoxicação que varia de intensidade de acordo com as condições do ambiente (umidade e ventilação), tempo de exposição e fatores individuais (idade e condições físicas);Mercúrio (hidrargirismo): o contato com a substância se dá por meio da inalação, absorção cutânea ou via oral da substância; ocorre com trabalhadores que lidam com extração do mineral ou fabricação de tintas;Solventes orgânicos (benzenismo): por serem tóxicos e agressivos, podem contaminar trabalhadores de refinarias de petróleo e indústrias de transformação.
Dermatoses ocupacionais - Também conhecidas como dermatites de contato, são alterações da pele e das mucosas causadas, mantidas ou agravadas, direta ou indiretamente, por determinadas atividades profissionais. São provocadas por agentes químicos e podem ocasionar irritação ou até mesmo alergia. O estresse e o excesso de trabalho podem variar desde mudanças no humor, ansiedade, irritabilidade e descontrole emocional até doenças psíquicas. Geralmente, o estresse é causado por sobrecarga de tarefas e ausência de pausas para descanso e exercícios físicos. Ativar os músculos com exercícios diários, mesmo os de relaxamento, é um bom começo para se livrar do estresse. Durante os exercícios, inspire o ar pelo nariz e solte pela boca, sentindo o oxigênio descer e o gás carbônico subir.
veja os exercícios que ajudam a previnir doenças ocupacionais